21.11.10

como foi/é...

Vou descrever como foi o tempo em que as noites não eram passadas com os olhos fechados, como talvez deveriam ser, mas não. Ficava sim acordada e receosa do que podia acontecer...
Bem só sei que foi de repente. Apanhou-me completamente de surpresa e nunca pensei ser alvo do que se chama depressão, ou esgotamento. Prefiro dizer que desisti de mim mesma se não se importam. Julgava-me suficientemente (digamos que) “Forte” para que esse tipo de coisas não me atingisse. Bem, sem mais rodeios passo a descrever como foi e por vezes ainda o é…
Tudo começou com um aglomerado de acontecimentos anormais, atitudes que eu nunca tinha tido. Pensou-se que era apenas uma fase (normal da idade), mas essa fase perdurou e a ajuda era necessária.
Sou portadora de uma doença, a Diabetes tipo 1. Para quem não conhece, é uma "SIMPLES" doença procedente de uma deficiência no pâncreas, e que para a controlarmos temos um plano com umas certas regras a cumprir. Medir a glicemia (uma picada no dedo, e o sangue é avaliado por uma maquina própria; aparece um resultado; é consoante o mesmo que sabemos o nível de açúcar que temos no sangue); Injectar a insulina (em diferentes partes do corpo; as dosagens dependem dos valores resultantes da maquina acima referida e de cada um (diabético); Controlar a alimentação, principalmente os hidratos de carbono e açucares; Praticar exercício físico; Seguir os planos dados pela equipa médica que nos acompanha (nutricionista, enfermeiro, médico especialista, entre outros de diversas áreas) e Cuidar do corpo, são aspectos importantes no dia-a-dia de um diabético. Há 9 anos descobri o que me iria acompanhar pro resto da vida, pois esta doença é crónica.
Bem no início foi tudo muito fácil. Até mesmo as picadas. O mais complicado foi a alimentação (acabaram-se as idas ao bar e sem qualquer problema escolher o que bem me apetece-se, com ou sem açúcar, muitas ou poucas calorias), mas tudo uma questão de hábito e nada mais.
Nunca antes tinha tido recaídas até à relativamente 3 anos pra cá. A partir do momento em que comecei a perceber que isto era mesmo para sempre rejeitei esta porra. Não tenho pachorra para cuidar de mim. Irónico? Melhor, caminho para a minha própria cova e assim, é que me sinto bem. Sei perfeitamente que faço o contrário do que é suposto fazer. Que é tudo muito fácil de seguir. Sim eu sei o que esta errado. Mas não me apetece. Cansei. Desisti de mim. Enfraqueci e deixei que a preguiça se apoderasse de mim.
De há uns tempos pra ca a Silvana já não é a mesma rapariga dócil, simpática, e bem-humorada que até à data era. Sou agora uma pessoa revoltada, rejeitada, mal-intencionada, robusta, azeda, agressiva, mole, por ai.
Fui-me completamente a baixo, e dei uma volta de 180º.
Enfraqueci. Tudo me fazia/faz chorar, porque tudo me magoa, ou me lembra algo do género. De tanta coisa que vejo de errado no meu dia-a-dia, ou que pelo menos para, mim não estão bem, e que não são do meu agrado, guardei dentro de mim como se fosse um saco de lixo.

Como disse, tudo começou, mais ou menos há 3 anos. Resolvia as coisas de maneira rude. A minha maneira de falar passou a ser das piores e das menos agradáveis de se ouvir. Agressiva e mal-encarada. Queria la saber se estava certa ou errada, a minha ideia era aquela e tinha que a defender da melhor maneira, pelo menos para mim. Insuportável. Comecei a ter pesadelos completamente obscuros: «Um buraco permanentemente à minha frente, fosse para que lado fosse e vozes. Vozes que dizem: morre, és uma treta, uma desilusão, uma fraca, uma pessoa completamente falhada...»  Isto foi o meu limite. Deixei de dormir direito, não fechava os olhos simplesmente, tinha medo do que ia ouvir e do que ia ver. Só uma vez é que aconteceu durante o dia. Foi horrível. Sem mais nem menos ouvir o meu subconsciente como que se tivesse alguém a falar ao meu ouvido. Assustador. Então chorava e chorava e chorava... Via-me fechada num cubo. Vazio. Sem saída. Comigo ali aninhada num canto. Desprotegida e frágil. Cansada. Cheia de sono. Na rua persentia que alguém me seguia. Mas eram apenas pessoas normais com os seus problemas, e assuntos a tratar. Mas para mim estavam a seguir-me, para me julgarem. Tudo o que fazia estava mal. Eu não merecia estar ali. Então escondia-me por minutos.
Psicólogo. Psiquiatra. Medicamentos para dormir. Conversas. Os meus pais perceberam o que se estava a passar. Para quê? Não queria nada. Mesmo nada ter ido a baixo. Quase ao fundo...

Ainda choro, Ainda odeio e tenho medo das coisas. Mas pelo menos já tenho mais noites "normais" em que sonho com a minha saída deste sítio, e com outras coisas mais.

Já foi assim. Às vezes ainda é...

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